João Sousa é o melhor tenista português da história.
Longe dos grandes centros, longe dos centros de treinos mais cosmopolitas do país, fez-se homem por si.
Pegou na mala ainda menino e atrás de um sonho rumou a Barcelona, com os pais, longe dos apodos vazios do “você” a tudo o que mexe, a terem de contrair um empréstimo bancário para não cortarem as asas ao filho.
Fez-se jogador… capaz de, a pulso, olhar de frente para alguns dos nomes que terão um lugar eterno na história da modalidade. Além disso, fez história. Tornou-se no único português capaz de estar no top 30 mundial (retirando Cristiano Ronaldo, até pela idade, teremos algum jogador de futebol a esse nível?), no único a vencer torneios ATP, no único a ser capaz triunfar no Estoril Open e, ainda, o único a jogar uns oitavos de final de um Grand Slam. Com sangue, suor e talento pagou a aposta que os seus pais fizeram em si, não os deixando ficar mal.
João tem, hoje, 33 anos. Com o decurso inexorável do tempo, está-lhe a acontecer o que aconteceu a outros grandes jogadores em todas as modalidades. Apesar de ser, ainda, capaz de obter alguns bons resultados, doseia-os com maior frequência com algumas derrotas que o tenista português de todos os tempos, não sofreria. Aliás, nem sequer se daria ao trabalho de participar em certos torneios, os ditos Challenger, que foram, contudo, muito úteis na ascensão da sua carreira.
Ontem, num desses torneios menores, sofreu uma derrota. Inesperada, atento o adversário que encontrou. Mas, pior do que isso, foi o que sucedeu depois. Um conjunto de insultos de gente que nunca saberá o que é o desporto e que este nos seus desígnios jamais será matemática. O jogador português foi derrotado e, por isso, alvo de insultos, ameaças, chegando a existir quem lhe desejasse a morte…. tudo pelo resultado infeliz do jogador (que deveria querer vencer mais do os que estavam esparramados no sofá a insultá-lo) poder ter-lhes arruinado uma aposta.
Estranho mundo este, em que, através de um dispositivo tecnológico, conseguem entrar na vida de terceiros, apoucando-os, rebaixando-os e humilhando-os… como se do alto da sua moral e falsa superioridade tivessem feito algo que os desprendesse da banalidade; ou que ganhassem a vida com sacrifícios e trabalho, como João Sousa fez, em vez de estarem dependentes do sucesso de terceiros.