Muito se tem discutido sobre a evolução do futebol, nomeadamente a posição “9”, o denominado ponta de lança. Se outrora era determinante, mais recentemente nasceu o chamado “falso 9”.
De um jogador mais fixo evoluiu-se para um mais móvel, mas será mesmo assim?
Tal como as modas que são cíclicas, a evolução do futebol também o é.
Recordo os primórdios em que todas as equipas jogavam em 1-4-4-2 clássico, sistema tático muito usado em Inglaterra. Recordo, também, que nos inícios do milénio quando me iniciei como treinador, ninguém “podia” jogar neste sistema pois era considerado ultrapassado, até que alguém o voltou a usar com sucesso, e fez-se dele, novamente, moda.
Na posição “9” sinto que a evolução foi similar, de um jogador com capacidade de jogar de costas para a baliza, bom jogo aéreo, e talhado para o golo procurou-se um jogador mais movél, ágil, com capacidade de realizar diagonais e ataques em profundidade.
Neste Campeonato do Mundo do Qatar, tenho tido especial atenção a esta posição. Observo Mbappé, muitas vezes ponta de lança no PSG, mas com a natureza de corredor, com necessidade de ter um jogador como referência, no caso Giroud. No caso inglês Kane é o habitual 9 de raiz, nos Australianos Duke tem essa função, na nossa seleção Ronaldo progressivamente foi crescendo para essa função.
Perante este dilema, da substituição do 9 fixo por um “falso”, observo a seleção alemã com rendimento abaixo das expectativas, com carência nesta posição. Todo o poder individual germânico foi convocado para o mundial, todos aqueles jogadores, maioritariamente do Super Bayern de Munique estão presentes, mas, e o ponta de lança fixo?
Relativo ou determinante?
Na minha opinião determinante, desde Muller a Sané, avançados estes de renome mundial, existe uma necessidade comum para que o seu jogo ganhe explosão; necessidade essa, que na minha opinião é, a tal referência que os apoie, que lhes segure a linha defensiva, para que de trás para a frente, estes jogadores possam explanar o seu jogo.
Chamou-me a atenção a convocatória de um ponta de lança de “segunda linha” alemã”, Niclas Fullkrug, o tal herói improvável no último jogo, possivelmente o “Eder” Germânico, que passou a maior parte da sua carreira numa segunda linha do campeonato alemão. Apenas aos 29 anos chegou à seleção nacional, mas que tem características que os atuais craques alemães são carentes: os olhos na baliza, o só pensar em rematar para o golo, o tal faro de golo essencial aos pontas de lanças mais fixos.
Com a chamada deste atleta por parte do selecionador alemão, parece-me que mais do que a qualidade individual do jogador, a relevância das suas características teve mais peso, quando comparado com Havertz, Muller ou mesmo Timo Werner.
Será que o “falso” 9 irá dar a vez ao outrora determinante 9 mais fixo?
Algo para acompanharmos no mundial, e já agora, se Fullkrug será titular no próximo jogo…