A falta mais célebre da história da Bundesliga
O futebol é por excelência um jogo de contacto, e por muito que as faltas façam parte do jogo, o pior pesadelo de qualquer jogador é uma lesão fruto de uma.
A Bundesliga na década de 80 era um campeonato com defesas que actuavam de forma particularmente dura, sendo os árbitros eram na altura muito mais complacentes disciplinarmente do que são hoje em dia. Contudo, poucas faltas foram tão notórias e memoráveis como a do defesa Norbert Siegmann do Werder Bremen sobre o avançado Ewald Lienen do Arminia Bielefeld, num jogo disputado em Bremen faz amanhã (14 de Agosto) 41 anos. Aquela partida, que terminou com o resultado de 1-0 para os homens da casa, teria sido só mais uma como outra qualquer não tivesse ocorrido aquela célebre falta.
Minuto 20 do jogo: após ganhar a bola, Lienen sofre uma impetuosa entrada de Siegmann, caindo desamparado no chão. Ainda se consegue levantar, mas leva a mão à perna e imediatamente fica prostrado no relvado, queixoso: os pitons do seu adversário abriram-lhe uma ferida de 25 centímetros que lhe expõe o fémur. O árbitro estava no outro lado do campo, não se apercebendo imediatamente da gravidade da lesão, pelo que se limitou a mostrar o cartão amarelo ao defesa do Werder Bremen. Lienen ficou furioso, reclamando enquanto se contorcia pelas dores que sentia fruto da lesão que, obviamente, mereceu atenção hospitalar.
Anos mais tarde, o então ex-jogador comentou em entrevista ao Deutsche Welle que naquele tempo o futebol era especialmente violento e que os jogadores, principalmente os defesas, não tinham em consideração o bem-estar dos seus adversários. Para ele, aquela falta foi mesmo a gota de água: ainda no hospital decidiu interpor uma ação judicial contra Siegmann e contra o treinador do Werder Bremen, Otto Rehhagel, acusando este último de ser o principal instigador da impetuosidade dos jogadores da sua equipa para com a oposição.
O tribunal não deu razão a Lienen, alegando que os futebolistas tinham de considerar a possibilidade de sofrerem lesões graves, da mesma maneira que um pugilista não se podia queixar se fosse brutalmente esmurrado. Lienen regojiza-se por entretanto os tempos terem mudado:
“Fico satisfeito por esta visão ridícula e primitiva da altura não ter prevalecido, e por agora termos futebol socialmente aceitável em que tais comportamentos não são aceites”.
Mas, este momento não foi o fim da história. Lienen levou 23 pontos na perna, mas um mês depois já estava recuperado e voltou aos relvados. Os media, contudo, sedentos de sangue como sempre, sensacionalizaram o caso, o que talvez tenha acicatado ainda mais alguns adeptos: o defesa que fez a falta, Siegmann, passou a ser apelidado de “O Estripador”, chegando a receber ameaças de morte, o que levou a que tivesse de estar sob proteção policial. No jogo da segunda volta em Bielefeld, Otto Rehhagel chegou mesmo a usar um colete à prova de bala quando estava no banco.
Ewald Lienen lamentou as proporções que o caso ganhou, mas como o próprio revela, Norbert Siegmann desculpou-se a seguir ao sucedido através de uma carta, explicando que não foi sua atenção aleijar o seu adversário. Lienen acreditou nele, e sabe que após o que se passou Siegmann passou a ter mais cuidado em campo.
30 anos depois daquele jogo os dois voltaram a encontrar-se. Norbert Siegmann revelou mais tarde que estava um pouco receoso e que esteve para cancelar o encontro entre ambos, mas que acabou por ser uma reunião bastante agradável e até catártica.
Felizmente para os dois, atrevo-me a dizer, não existiam redes sociais na altura…
(Fonte: DW)