“Estamos numa guerra e, para conseguir ganhá-la, temos de ter todas as nossas forças apontadas na mesma direção. Se, eventualmente, há uma força, elemento ou ‘espingarda’ que não está exatamente no alinhamento que desejamos, tem de sair.“
José Gomes, treinador do Marítimo, é um homem bem falante e com formação acima da média.
Aliás, essa, também terá sido uma das razões que o fez entrar no mundo do futebol, primeiro como adjunto e preparador-físico e depois como treinador principal.
Verdade seja dita, que a sua carreira como técnico não terá conhecido o êxito que se perspectivava pelos seus conhecimentos e até pelos seus mestres.
Depois de um longo percurso, chegou a meio desta época ao Marítimo. Com a espinhosa missão de salvar os verde-rubros da despromoção, tem procurado incutir na equipa uma mentalidade diferente da que vinha demonstrando sob a orientação de Vasco Seabra primeiro e de João Henriques depois. Com Gomes e com as contratações efectuadas no mercado de Janeiro o objectivo passaria por tornar o Marítimo uma equipa menos dócil e mais aguerrida, capaz de disputar os pontos, de que tanto precisa, em todas as partidas do campeonato.
Porém, reconhecendo essa necessidade, o técnico ter-se-á excedido nas declarações que transcrevemos, em alusão ao afastamento do jogador peruano, Percy Liza.
Excedeu-se, desde logo, porque já deveria saber que o desporto não é, nem nunca será, uma guerra. Por muito que se esqueçam, e este tipo de declarações ajudam a isso, deverá ser um exemplo de cavalheirismo, princípios e respeito pelo adversário. Aliás, o seu código ético será muito diverso dos códigos de guerra.
Depois disso, num futebol português, em constante ebulição, comparar a fuga (desesperada!) do Marítimo aos lugares de descida a uma guerra, é desvalorizar, ainda mais, um produto já olhado de soslaio em todas as latitudes. O futebol português é merecedor de uma interpretação sui-generis pelos seus intervenientes, que se proferissem tais alocuções em países como a Inglaterra seriam castigados.
Por fim, teremos de relembrar a Gomes as imagens de guerra que nos entram todos os dias casa adentro, através da televisão. Será que, em algum momento, poderá equiparar um jogo de futebol, um golo, às imagens de morte, de crianças abandonadas, de bens completamente danificados que nos entram pelos olhos?
Em suma, poderia ter todos os motivos para despromover o seu jogador, mas nunca em comparar a sua missão como uma guerra! É futebol…e nele haverá vencedores…e vencidos!