No passado Domingo seguia no meu carro a ouvir um noticiário de um emissora nacional. A pivot de informação, depois de ter aberto o período noticioso com a indignação, segundo ela, nacional pelo que houvera ocorrido no Estoril, findou o mesmo espaço concluindo que o “campeonato prossegue hoje com o líder Benfica a receber o Marítimo e o SC Braga a actuar perante o Vizela.” Confesso, que nesse momento, fiquei confuso. Fiquei confuso, porque segundo tinha aferido, nesse dia, o Arouca, também, ira receber o Vitória SC e o Casa Pia actuaria contra o Famalicão. Porém, para ela, ou para quem na redacção gizou o que ela haveria de ler, esses jogos haviam sido apagados do mapa.
Porém, o mesmo Famalicão, na semana anterior, houvera merecido luzes de ribalta por uma situação em que prontamente foi condenado. Nesta, as mesmas viraram-se para o Estoril. Sempre do mesmo modo! A condenar o sucedido nas bancadas desses clubes, a dar voz, simplesmente, a quem está disposto a atacar os menos titulados, e, inclusivamente a tratar de modo “cuidado” os comunicados de produção de contraditório vertidos por ambos os clubes. Assim, se no caso dos famalicenses, pelo mesmo não dar hipótese de ser treplicado pela contundência e clarividência do mesmo, foi como se jamais tivesse existido, no dos estorilistas trataram, apenas, de referir que foi pedida desculpa à criança, sem cuidar de referir que a descrição feita do comportamento do zeloso e preocupado progenitor que durante vários minutos deu um exemplo de urbanidade e saber estar que a filha, certamente, levará para a vida.
Tal, leva-nos a uma reflexão. Num mundo em que os números contam mais do que as atitudes, a imprensa portuguesa cedeu ao sensacionalismo e à defesa de quem lhes permite ter mais audiências. Prefere o ataque aos mais fracos para se manter de bem com os mais mediáticos, ao invés de dar voz a ambos. Cede ao populismo das massas em detrimento de contribuir para a defesa de todos.
Comprendemos que são empresas privadas com critérios editoriais. Que esses critérios editoriais, ao invés de bem informarem, estão cada vez mais vocacionados para o lucro. Que, há gente com cargos de responsabilidade em órgãos de comunicação social que chamam aos programas sobre futebol, “novelas para homens”, e nessas como bem sabemos só interessa se o artista morre ou fica com a donzela… os secundários pouco são lembrados.
Porém, estamos num estado de direito. Um estado em que segundo o artigo 13º da Constituição todos somos iguais. Ora, se quem deve ser uma voz na luta pela igualdade, trata participantes de uma mesma prova desportiva de forma diversa, estará a contribuir para os princípios basilares da nossa democracia?
É o mundo a duas velocidades…a dos que interessam e a dos meros figurantes, meros acompanhantes de quem olha para eles só quando interessa acusar!