“Tenho sentimento de culpa, não vi crescer os meus filhos porque estava muito fora de casa. Não vi o meu filho a dizer pai pela primeira vez, a aprender a andar de bicicleta, a nadar… e ele não está cá, foi-se embora. É difícil ter um filho e não o conhecer, culpa do futebol. Há um certo divórcio, sinto culpa por ter trocado o meu filho, por não tê-lo conhecido.”
Um aniversário é algo para ser festejado, para ser vivido de modo feliz.
Mas, hoje, que Quinito completa 74 anos, será um dia igual aos outros.
Aliás, tem sido assim, desde aquele famigerado dia 12 de Novembro de 2009, quando o seu filho Gonçalo, vítima de acidente de viação no Brasil, faleceu.
A alegria que era seu apanágio desapareceu.
O homem que nos deliciava com expressões únicas como “colocar a carne no assador”, o “médio ser o rabo de vaca, por sacudir toda a porcaria que aparecia pela frente”, entre tantas outras, a partir desse momento, resolveu viver a sua vida em silêncio.
Pior do que isso, culpando-se de algo que não teve qualquer culpa.
Na nossa memória ficaram as palavras na homenagem que lhe foi tributada pelos seus colegas treinadores.
Um homem torturado, macerado por uma dor que ninguém merece, mas, acima de tudo amplificada, pela culpa excruciante que sente.
Quinito era um homem feliz… um bon vivant que dizia que preferia morrer novo deleitando-se com os prazeres da vida do que ir apagando-se infeliz…
Um homem que via magia no jogar bem, desejoso de ter dinheiro para investir em pequenos prazeres como ter o seu admirado Pedro Barbosa a jogar no seu quintal!
Tudo se apagaria…
Hoje, o homem que se apresentou de smoking na Final da Taça de Portugal, no Jamor, quando servia o SC Braga, raramente sai de casa. Não fala com ninguém. Vive sozinho com as suas memórias e com uma culpa que todos percebem não ser sua, menos ele…
Hoje, Quinito faz 74 anos!
Que haja coragem, arte e engenho para resgatar-lhe um sorriso e aliviar-lhe a alma…
Ninguém merece massacrar-se por factos dos quais é inocente.
Quinito merece ser feliz…