– “Quando acabou o jogo fui à ‘flash’, depois segui para a conferência de imprensa, e repito o que disse aí: lá, no campo, não ouvi nada. Ele estava muito longe, só o vi a discutir com o jogador do Coreia. Depois, vi as imagens e não gostei nada.”
Foi com estas palavras que Fernando Santos assumiu ter percebido a quem Cristiano Ronaldo se dirigia no momento da sua substituição frente à Coreia do Sul. Recorde-se que, nesse momento, o jogador português proferiu a seguinte expressão: “Estás com uma pressa do c****** para me tirar, f****!”
Apesar de acharmos que tal indignação era desnecessária, aliás Cristiano até deveria ter sido poupado para os próximos jogos, a verdade é que a questão escalou por culpa exclusiva do seleccionador.
Na verdade, independentemente do rendimento do jogador estar aquém do esperado, não terá sido o primeiro ou o último a manifestar desagrado pela sua substituição. Reconheça-se que CR7 é o capitão e líder da equipa e que tem tido algumas atitudes que não se coadunam com esse estatuto, como a reivindicação do golo frente ao Uruguai ou este momento. Porém, independentemente da boçalidade dos argumentos e da brejeirice da expressão utilizada, não fez qualquer crime de lesa-pátria.
Pior, estaria o seleccionador, o primeiro a falar na conferência de imprensa após o jogo, ao buscar uma rebuscada explicação para o sucedido. Ao invés de desvalorizar o caso, aproveitando para manifestar a sua liderança perante o grupo, optou por apostar num argumento alternativo, numa tentativa de dar uso ao velho ditado português “com papas e bolos se enganam os tolos.” Cristiano, esse, ficaria confortável. Ao invés de dizer que se sentia bem, que quer jogar sempre, que está sempre disposto a ajudar, entre outros tantos lugares-comuns que um jogador utiliza para justificar a sua insatisfação por ser substituído, embarcou na história… mais valia, pois, imediatamente, um deles passaria por mentiroso!
E durante dois dias, um coreano foi o vilão de uma história que desconhecia!
Porém, Fernando Santos esqueceu-se que vivemos num verdadeiro Big Brother. Que existem dezenas de câmaras espalhadas pelo campo. Que as televisões contratam especialistas em leitura labial. Acima de tudo, Cristiano Ronaldo é sensacionalismo, ao ponto dos seus colegas, em conferências de imprensa, terem-se visto na contingência de solicitarem aos jornalistas que não fizessem perguntas sobre o número 7 da selecção lusitana.
Por isso, confrontado com a realidade, o seleccionador português teria de dar o dito por não dito. Demonstrando que para a verdade há sempre um flick flack invertido à rectaguarda, para passar a existir algo diferente. E que, mediante a pressão mediática, há sempre uma hipótese alternativa… mesmo que, mais uma vez, Fernando Santos fique muito mal na fotografia e no argumento gizado…