Confessamos que temos sentido curiosidade…
Curiosidade na comparação de manchetes entre os jornais nacionais e os jornais de outros países em tempos de Mundial. Neste cotejo, ousamos incluir países cujas selecções nacionais não se apuraram para a máxima prova mundial por selecções, ou que, então, como a nossa, já foram eliminadas. Ou seja, procuramos jornais espanhóis, italianos, franceses e ingleses.
Ficamos siderados, principalmente nos dois últimos dias. Com efeito no momento em que se jogam as meias finais da prova com maior expressão planetária no mundo do futebol, os nossos periódicos desportivos agem como se nada de relevante se passasse no mundo! Assim, continuam a promover os três emblemas mais titulados do país, dando voz a rumores e tricas.
Deitam para trás das costas, obviamente, uma prova que, apenas, se disputa de quatro em quatro anos. Olvidam um evento à escala planetária para, hoje, por, exemplo A Bola diz que “O Benfica prepara entrada em 2023” (como se nós também não o estivéssemos a fazer), o Record refere que “Rui quer Blindar Schmidt” (algo de relevante no momento em questão), para O Jogo findar com a promessa de Pinto da Costa que “Pelo FC Porto enfrento seja quem for” (como se não soubéssemos disso há … 40 anos).
Ao invés, toda a imprensa internacional fala da França, de Mbappé e do seu encontro com Messi, no tema óbvio para quem realmente ama futebol.
Tal leva-nos a uma intrigante questão: somos ensinados a gostar de futebol ou dos clubes?
Se os próprios jornais, sempre elementos moderadores de mentes e consciência, nos induzem a dar mais importância a histórias da Carochinha, como poderemos deixar o clubismo bacoco de lado? Como poderemos formar adeptos apaixonados pelo jogo, ao invés de fanáticos assoberbados em que a banalidade supera a diferença, em que o corriqueiro marca pontos sobre o extraordinário, ou, enfim, onde a qualidade supera o corrente?
Costuma-se dizer que temos a imprensa é o retrato de um povo… ora, se assim é, confirma-se quem desportivamente o panorama português é preocupante. Cinge-se a notícias sem qualquer interesse dos três mais titulados emblemas do país, permanecendo 365 dias no obscurantismo os demais e deitando para trás das costas todos os demais eventos. Depois, hipocritamente, baterão palmas a feitos como os do Leicester, Lille e mais alguns…sabendo que, se tal acontecesse em Portugal, o modo como interpretam o negócio estaria arruinado!
Absolutamente lamentável…