Foram dias difíceis em Famalicão.
Desde Sábado passado, aquando do famigerado episódio da camisola, que o clube foi atacado por todos os lados.
Nos juizes das redes sociais, quem chegasse a este país nos últimos dias, pensaria que o clube nortenho tinha cometido um crime de guerra.
No populismo de um governo, sempre pronto a colocar-se ao lado da opinião das massas (ainda que estejam mal esclarecidas), um secretário de estado sem qualquer formação em desporto apressou-se a fazer juízos de valores.
Na precipitação de uma liga, que parece andar sempre ao contrário do que deve fazer, Pedro Proença apressou-se em ir de acordo com a “maré”, esquecendo-se que ambos os clubes, por pertencerem à organização da qual é presidente, deverão ser respeitados por igual. Ao invés de condenar, deveria ter ouvido ambos, não fosse, esse sim, o princípio do contraditório constitucionalmente previsto.
Na ânsia de uma imprensa, desconhecedora dos princípios da imparcialidade, e onde os “Guerras e os Delgados” ditam ordens, fez-se o julgamento sumário do clube, produzindo-se a acusação, e condenando-se o clube ao dizer “isto não é futebol.”
Durante quatro dias, humilhou-se um clube, vilipendiou-se a sua honra, sem sequer cuidar-se de saber o que defendiam os argumentos, o que diziam as leis. Era assim, que tinha de ser…assim seria, como em tantos outros casos em que a “vítima” é um dos protegidos do sistema.
Porém, hoje, o silenciado, leia-se Famalicão, falou. Falou e falou de forma desarmante, quase nos deixando curiosos como os “catedráticos da acusação fácil e sem sustentação” continuaram a defender-se.
Valerá a pena transcrevê-lo:
” O Futebol Clube Famalicão evitou até ao presente pronunciar-se sobre o acontecimento ocorrido no passado fim de semana porque pretendíamos averiguar os factos com o rigor exigido. No entanto, sem dar lugar ao contraditório por parte do Futebol Clube Famalicão, muito foi dito nestes dias até por altas individualidades do nosso país, nomeadamente o Presidente da Liga Portugal e o Secretário de Estado do Desporto.
Lamentando profundamente a situação vivida pela criança, que não merecia a exposição a que esteve sujeita e à qual o nosso clube é totalmente alheio, como explanaremos adiante, comunicamos:
1 – Da relação com adeptos – O Futebol Clube Famalicão recebe com cordialidade os adeptos visitantes, cumpre a lei e os regulamentos e é conhecido pela forma como trata não só os seus adeptos, mas também quem nos visita com diversos exemplos ao longo dos anos. Acima de tudo, cabe-nos a proteção dos nossos adeptos, da nossa cidade, do bom nome do concelho. Juntos, com os nossos, construímos um clube conhecido pela paixão e fervor pelas suas cores e não abdicaremos nunca de lutar para que os nossos adeptos vivam este amor de perdição de uma forma tão apaixonada como a forma como sentimos o clube.
2 – Especificidades do Estádio – O Estádio Municipal de Famalicão, propriedade da Câmara Municipal de Famalicão, está setorizado com duas zonas destinadas ao público visitante, nas quais são permitidos adereços do clube visitante. Bem visível foi a mancha vermelha presente naquela bancada, onde não se encontravam, neste caso concreto, o pai e a criança. Nesse sentido, ao pai da criança foi transmitido pelos assistentes de recinto desportivo (ARD’s) e pela PSP a impossibilidade de aceder com adereços da equipa visitante a uma bancada que não a afeta ao público visitante. Quando informado das condições de acesso e permanência no estádio (nas quais se inclui a permissão de utilização de adereços visitantes exclusivamente no setor visitante) pelo assistente de recinto desportivo no primeiro ponto de controlo antes da entrada, o pai da criança optou por retirar a camisola alusiva ao clube visitante do corpo do filho, expondo-o em tronco nu, o qual podemos atestar através dos elementos da segurança privada e segurança pública presentes no local assim como pela gravação de videovigilância do evento, não procurando uma alternativa para o seu acesso àquela bancada no cumprimento dos dispositivos regulamentares e legais.
Cumpre-nos ainda esclarecer que o acesso do pai e do respetivo filho ao setor afeto à equipa visitada foi efetivado através de convites regulamentares, na medida em que apenas os sócios do Futebol Clube Famalicão poderiam adquirir bilhete para o referido setor do Estádio Municipal de Famalicão.
Também o Relatório dos Delegados da Liga Portugal não relata qualquer incidente em matéria de segurança, tendo o Futebol Clube Famalicão sido, inclusivamente, felicitado pela equipa de Delegados da Liga presente no referido jogo por esse facto. Um sentimento que adquire maior dimensão e importância dado terem sido elogios prestados pelos delegados com melhor pontuação nas duas últimas temporadas desportivas, a quem é reconhecida elevada competência e igual exigência no cumprimento de todos os deveres.
3 – A atuação dos ARD´S e PSP – No estrito cumprimento do citado regulamento, os elementos destas entidades tiveram um cumprimento exemplar das funções para as quais estavam contratadas. Como nota, acresce que foi o maior contingente policial jamais visto no nosso estádio, por decisão única e exclusiva da Polícia de Segurança Pública, destacando-se que não houve nenhuma ocorrência a nível de segurança.
4 – Posição da Liga Portugal e do Secretário de Estado do Desporto – Exigimos um pedido de desculpa formal por parte do Dr. Pedro Proença, representando a Liga Portugal, e do Dr. João Paulo Correia, representando o Governo, pelas posições assumidas de uma forma extemporânea e ofensiva para a honra e bom nome do nosso clube. Todos os factos ocorridos estão contemplados no regulamento de segurança e de utilização dos espaços de acesso público, nomeadamente no seu artigo 28 número 2 para a época desportiva 22/23 que passamos a transcrever – “Apenas é permitida a entrada e a utilização de adereços da equipa visitante nos setores B0 e B1 reservada aos seus adeptos”. Preside a esta norma um estrito critério de segurança. Bem sabiam, porque não podem desconhecer este regulamento aprovado pelas entidades que superiormente dirigem.
Aguardamos serenamente pelo pedido de desculpas formal de quem gravemente ofendeu este clube quando tinha o dever de defendê-lo, com a certeza que nada nos desviará do caminho de fazer do Futebol Clube Famalicão um clube cada vez maior.“
Ou seja, ou em Portugal reina uma ignorância atroz em todos os agentes desportivos, ou a má-fé pulula em todos os espíritos que defendem que só poderá existir uma opinião.
A honra do Famalicão passa pela inexistência de incidentes no recinto, que pai e filho entraram com convites para uma zona reservada e que o pai, em claro abuso de direito, optou por tirar a camisola ao filho para depois expor a situação nas redes sociais. Pior do que isso, Proença e o secretário de estado deverão conhecer os regulamentos de segurança pelo que não se entendem (ou, até entende) as suas declarações.
Mas, acima de tudo, fica mais um clube que, durante quatro dias, foi humilhado sem direito a defesa, num processo digno da Coreia do Norte, sem sequer merecer ser ouvido. A culpa, em certas situações no futebol deste país, tem o seu ónus invertido, devendo o acusado ter de provar a sua inocência, ao invés de quem acusa, de dedo em riste e com uma acusação infundada. A esse bastará colocar tudo e todos a mandar bitaites…