Um dos emblemas da moda no futebol europeu é, indubitavelmente, o Union Berlin.
O clube da capital da Alemanha lidera, de modo surpreendente, a 1.Bundesliga, está na luta pelo apuramento no seu grupo da Liga Europa e tem levado à loucura os seus apaixonados adeptos. Tão apaixonados, que a equipa em certos jogos entrou em campo, como a fotografia que ilustra estas linhas demonstra, com um agradecimento sentido aposto nas camisolas: “Danke Unioner”; ou seja, “Obrigado, Unionistas”.
Estes momentos de ilusão, tão belos no futebol, deve-se ao facto da equipa, apenas, ter perdido um jogo no principal campeonato do país, numa ascensão meritória. Assim, se no primeiro ano em que disputou o campeonato principal conseguiu garantir a manutenção sem grandes problemas, na temporada seguinte atingiria as competições europeias, algo que se poderá reputar de histórico e com muito mérito para o treinador suíço Urs Fischer, um verdadeiro herói no clube que representa desde 2018/19 acompanhando a espiral ascendente do mesmo.
Espiral ascendente que, também, se vislumbra no aspecto financeiro. O FC Union conseguiu obter perto de 25 milhões de euros em vendas na última janela de mercado, merecendo destaque a transacção do avançado nigeriano Awoniyi por 20 milhões de euros para o Nottingham Forest.
Porém, não serão os bons resultados desportivos e financeiros que desencadeiam o intenso fervor clubístico vivido pelos adeptos. Tal, também, se deve ao clube sempre se ter sentido como anti-sistema. Recuemos, pois, ao período em que a RDA ainda existia. O clube, a competir nessa parte oriental do país, sentiu na pele as injustiças que levaram a que o Dynamo, o clube patrocinado pelo governo e pela temível polícia política, a Stasi, fosse sempre campeão, graças à manipulação dos árbitros, a políticas de intimidação e até doping.
Tal levou a que as classes mais humildes se revissem naquele clube que lutava contra os poderes instalados e que encontrassem a sua janela de oportunidade aquando da queda do Muro de Berlim, no início da década de 90 do século seguinte. Janela essa que sofreu muitos avanços e recuos, a ponto do actual Union ter tido a necessidade de mudar de nome por dez vezes para poder sobreviver…ainda que a massa adepta jamais tenha abandonado as bancadas do mítico estádio An der Alten Forsterei, enchendo quase sempre os seus 22.012 lugares. Refira-se, ainda, que em 2004 foram eles que remodelaram e repararam o recinto, evitando, deste modo que o clube tivesse de gastar dinheiro nas obras.
Aliás, destas surgiram momentos inequecíveis. Bastará relembrar quando os adeptos do clube na antecâmara da promoção à 1.Bundesliga, exibiram uma tarja a dizer “Merda! Vamos Subir!” ou quando provocaram os do RB Leipzig, pelo dinheiro da Red Bull ter ajudado a projectar a equipa.
Outro dos símbolos da equipa é o seu marcador manual do estádio. Um objecto original e que comprova que entrados naquele recinto somos remetidos a outra dimensão quase de fantasia, quase irreal.
Um clube que, apesar de viver o seu melhor momento desportivo, continua com os pés bem assentes na terra…