Economia do Golo
O desporto é a nossa paixão e a escrita o nosso vicio. Sempre dispostos a conjugar as duas artes, na certeza de uma junção sempre feliz... ousem descobrir!

CS Lebowski – O Futebol Romântico em Itália

Quando em 2021, o antigo internacional espanhol, Borja Valero, assinou por um desconhecido emblema italiano, todos os reflectores incindiram sobre ele.

Era o Centro Stórico Lebowski, um clube de Florença, cidade para qual o jogador e a sua família se enamoraram, a ponto de quando o médio ofensivo terminou a sua carreira profissional ter aí regressado para viver.

Porém, a história do modesto emblema do sexto escalão transalpino merece ser narrada. Assim, tudo começou em 2004, quando um grupo de amigos, desiludidos com o rumo que o futebol moderno e mercantilista levava, decidiu acompanhar uma equipa do terceiro escalão dos amadores de Florença, o A.C. Lebowski, que era conhecida por ser derrotada em todos os desafios em que participava. Fruto de alguns terem sido integrantes da Curva Fiesole, a principal claque da Fiorentina, a equipa passou a ser acompanhada com bandeiras, tochas e cânticos próprios dos clubes profissionais. Esses jovens, passados cinco anos, haveriam de criar um novo clube, aproveitando o apagamento do anterior: nascia o USD Centro Storico Lebowski.

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Muito do que aconteceu durante os anos seguintes não era sequer imaginável. Na altura, o clube era tão frágil que poucos teriam apostado que durasse para além da primeira época. Entre as muitas incertezas, algumas coisas já eram claras desses dias distantes: o Lebowski seria a primeira grande experiência em Itália do futebol administrado pelos adeptos. Ou seja, seria o primeiro clube do país, cuja propriedade era efectivamente colectiva, horizontal, dos adeptos. Esta visão tinha motivações éticas e políticas, mas também resultava da consideração de que a crise de muitos clubes desportivos amadores (como muitos clubes profissionais) teve a sua origem num modelo organizacional muito arriscado. Se um clube desportivo é dirigido por um presidente rico ou uma empresa, está totalmente dependente da sua fortuna, dos seus caprichos, da sua conveniência.

Além disso, segundo os fundadores, clube desportivo, por outro lado, deve ser um bem fundamental de uma área. É um lugar de educação, de agregação, de entretenimento, de saúde. Ninguém poderá permitir que desapareça de um momento para o outro. E, acima de tudo, deve ser acessível a todos em qualquer altura. Por isso que, desde o início, foi escolhido um modelo organizacional em que não foi “um” que deu “tudo”, mas “muitos” que deram o “pouco” que puderam. Se “muitos dão um pouco” a cada época, o clube tem uma base sólida e segura sobre a qual pode planear e evoluir. A principal forma de dar esse ‘pouco’ é tornar-se sócio.

Para tudo funcionar, todos tomam parte activa na gestão, todos assumem decisões, sempre com o fim do clube ser auto-sustentável. Para isso, para além dos mais ou menos 20 euros que todos pagarão por ano e que lhe dará a possibilidade de terem uma palavra a dizer na administração, o Lebowski financia-se através de eventos sociais e de patrocínios locais.

Desportivamente, apesar da equipa ter dificuldades em encontrar uma casa fixa, a carreira do clube tem-se pautado pelo sucesso. Já foi promovida por três vezes , conseguiu criar a sua própria escola de futebol, totalmente gratuita, e saltou para as bocas do mundo por causa de Valero…nada mal, para quem só queria reviver o velho espírito do futebol!