Trata-se da pergunta que todos os adeptos fazem…o que levou António Conte a abandonar o Tottenham, ficando no seu lugar, Cristian Stellini, o seu adjunto, que contará com o apoio de Ryan Mason até ao final da temporada, numa altura que faltam dois meses para a Premier League findar e com o clube londrino, ainda, a poder conseguir ficar nos lugares de acesso à próxima edição da Liga dos Campeões.
Como noticiado pelo site inglês The Athletic, a gota que terá feito transbordar o copo dos responsáveis dos Spurs terá sido a conferência de imprensa dada por Conte após o empate a três contra o Southampton, em desafio a contar para a Taça de Inglaterra, e em que os Saints empataram a contenda ao 93º minuto da partida. Nessa ocasião, o treinador italiano apontou o dedo aos seus jogadores, chamando-os de egoístas e acusando-os de jogarem apenas para si próprios.
Contudo, o mal-estar entre o antigo treinador da Juventus e o presidente Levy já tinha começado há algum tempo, apesar de Conte ter dado nova vida ao clube, após o desgaste causado pelas lideranças de Pochettino e de Mourinho . Relembre-se que o italiano assumiu os destinos do clube em Novembro de 2021, conseguindo alcançar um quarto posto final, suficiente para colocar Kane e companhia na alta-roda do futebol europeu, leia-se na Liga dos Campeões.
Foi precisamente tendo em conta a participação na Liga dos Campeões deste ano, uma competição que terminou com a eliminação nos oitavos de final às mãos do AC Milan, e em que o Tottenham esperava ser protagonista, contando, para isso, com o trabalho da Conte na fase de preparação, que investiu muitos recursos económicos no mercado de Verão. Mas a ilusão durou, apenas, algumas semanas, deteriorando-se, por isso, a relação entre a administração e o treinador.
Aos poucos, e apesar do trabalho de mediação do director desportivo Fabio Paratici, também, a relação entre Conte e o balneário começou a sofrer diversos abalos, com vários jogadores cansados das queixas do treinador contra o clube e contra a equipa, bem como desgastados pelas suas sessões de treino consideradas monótonas e as suas tácticas demasiado mecanizadas. “Tóxica” e “podre” são as palavras usadas por alguns membros da equipa para descrever a relação entre os jogadores e o seu treinador com a atmosfera dentro do vestiário a ser considerada muito pior do que a vivida nos últimos dias em que o balneário esteve sob as ordens de Mourinho.
A abordagem de Conte ao Tottenham tinha sido dura e rígida desde o início, mas o clube inglês tinha-o escolhido, também, poe isso, esperando que sob as ordens de um homem com punho de ferro, a que se aliava uma equipa com boas soluções, os troféus pudesses começar a ser festejados pelo clube. Porém, como tal poderia ocorrer, se até a comida serviu para implicância, ficando célebre o momento que, chocado, viu um jogador, a ingerir nachos dentro da academia de treinos. Considerados pouco saudáveis pelo técnico, imediatamente foram retirados do refeitório!
Relembre-se, contudo, que o início da carreira do treinador em Londres foi excelente, sendo que os jogadores pareciam ter redescoberto uma segunda juventude, com Son e Kane a levarem às costas os demais colegas. Mas isso não era suficiente para o treinador, não se esquivando, por isso, a pedir, constantemente novos jogadores.
Outro problema passou pela política do Tottenham e do seu presidente Levy que nunca foi de seguir os passos do Manchester City. Aliás, apesar de algumas contratações dispendiosas, esta temática, em Janeiro de 2022, levou aos primeiros confrontos entre as partes. A título de exemplo, o técnico transalpino queria o extremo do Wolverhampton, Adama Traoré nos seus quadros, e por Levy não querer contratar o jogador, o mesmo acabou em Barcelona. Seria necessária a intermediação de Paratici para fazer com que as partes chegassem a um entendimento.
No final da janela de mercado de Janeiro, todavia, foi contratado Dejan Kulusevski num empréstimo de 18 meses e Rodrigo Bentancur por 19 milhões de euros, mais 6 milhões de euros em possíveis bónus. Ambos entraram tornaram-se imediatamente peças fulcrais na equipa e foram um ponto de viragem na carreira da equipa. Aliás, refira-se que o primeiro jogo em que Bentancur e Kulusevski entraram em campo juntos foi no triunfo por três bolas a duas em casa frente ao Manchester City, que deu um grande empurrão para o quarto posto final.
Mas apesar disso, com o mercado fechado, Conte deu uma entrevista à Sky Itália dizendo que o mercado do Tottenham não tinha sido fácil e sublinhando que a equipa tinha perdido, apenas, quatro jogadores, só tendo chegado dois. Estas palavras não foram apreciadas pelo clube, que na altura proibiu, mesmo, o treinador de dar mais entrevistas a emissoras italianas.
Apesar do descontentamento do treinador, o Tottenham protagonizou uma grande segunda metade de época passada, graças também à excelente contribuição de Kulusevski e Bentancur, que entraram imediatamente no sistema do Conte, tornando os Spurs novamente um dos grandes da Inglaterra. Mas os rumores sobre o futuro do Conte não pararam, com o treinador italiano a ser frequentemente abordado por emblemas como o Real Madrid ou PSG. No final, haveria de ficar em Londres!
Porém, o mercado de Verão da presente época causou novo afastamento das partes. Com Conte a pressionar o presidente para contar com novos jogadores, este tentou agradá-lo, aproveitando um aumento de capital de 150 milhões de libras. Assim, Perisic chegou a custo zero do Inter de Milão, Richarlison por 50 milhões de libras e Yves Bissouma por 25 milhões de libras.
Todavia tal não foi suficiente para alegrar o italiano. Mesmo assim, convenceu o clube a não levar em estágio quatro jogadores que já não eram considerados úteis para o projecto técnico, algo que oTottenham nunca tinha feito antes. Mas as exigências de Conte ainda não tinham sido totalmente satisfeitas: faltava-lhe um lateral esquerdo de qualidade (como Alessandro Bastoni, outro jogador da sua época no Inter), um papel mais tarde suprido com a chegada de Clement Lenglet emprestado. Pretendia, também, um lateral direito de classe mundial, com o sonho de Hakimi (impossível de realizar) e Djed Spence chegou no final, que Conte imediatamente definiu como a escolha do clube e não a sua, ainda que, antes de partir, Pedro Porro tenha sido a tentativa de remediar as coisas.
No Verão passado acabaram por chegar seis jogadores (mais Destiny Udogie, que no entanto permaneceu emprestado na Udinese). O campeonato até começou de forma bastante sólida, mas a qualidade de jogo que tinha sido admirada na segunda metade da época anterior deixou de existir, com os resultados a serem de flutuação extrema.
Posteriormente, haveria de chegar o Campeonato do Mundo com o Tottenham em quarto lugar e apurado para os oitavos de final da Liga dos Campeões após ter vencido o grupo. Além disso, as lesões tiveram papel determinante. Kulusevski, Son e Lloris, para citar apenas três, estiveram fora durante várias semanas e mesmo quando os dois primeiros regressaram, não mostraram a excelência anterior. Mas mesmo os jogadores que não tinham problemas físicos tiveram abaixamentos de forma que minaram a força da equipa.
Foi, também, por essa altura que começou o descontentamento dos jogadores com os métodos de treino excessivamente duros do Conte, com alguns deles a não compreenderem realmente o que o seu treinador lhes pedia e o que deveriam fazer em campo.
Por fim, o espectro da sua renovação contratual. Assim, a discussão desta minou, ainda mais, a relação entre as partes. Na verdade, as conversações começaram antes do Campeonato do Mundo, sendo que, nessa altura, havia confiança no clube de que o treinador permaneceria no clube. As reuniões entre as partes foram retomadas a 12 de Dezembro, mas nessa altura as ideias do treinador já estavam mais inclinadas para a despedidaa. Conte não queria assinar um novo acordo e prender-se a um futuro a longo prazo em Spurs. Queria apenas terminar a temporada em alta para considerar o seu ciclo no Tottenham e deixar uma boa impressão do trabalho realizado.
Depois de um longo processo, seguir-se-á novo trabalho em Itália?