Arrepiante… emocionante… O amor entre pais e filhos.
Cláudio tem 73 anos. Adepto do Palmeiras, sempre foi de ir ao estádio apoiar o Verdão, no já inexistente Palestra Itália.
Como qualquer pai, orgulhoso dos seus rebentos, passou a levá-los ao estádio. A mais nova, Heloisa, que entrou no estádio, com 13 anos, sentiu ter descoberto aí a sua casa.
Junto do pai viu diversos jogos da Copa Libertadores, do Paulistão e de todas as provas que o clube do coração entrava.
Festejariam em casa, o Paulistão de 2020. Porém, antes um mês, um acidente vascular-cerebral quase tinha morto o seu pai.
Vale bem a pena ler a filha na primeira pessoa: “ – A primeira informação dos médicos era que o meu pai teria poucas horas de vida. Tanto que o hospital deu um jeito, em tempos dee covid, para eu e os meus irmãos despedirmo-nos dele.”
Porém, Cláudio haveria de sobreviver. À imagem da equipa de Abel que nunca desiste. Mudaria de hospital e como a filha diz “os piores diagnósticos e prognósticos ele tirou de letra.”
No hospital, entubado e sedado, Heloísa trazia notícias do Palmeiras ao progenitor. O pai, incapacitado de falar, apertava com a força a mão da filha, quando a notícia trazida era do seu agrado.
“O time melhorava com o Abel. Meu pai, também. Comecei a repetir a rotina dele. Programas de TV. Mostrar fotos dos jogadores. Isso o ajudou demais a se recuperar”.
As sequelas foram menores do que o esperado. Mas ainda pesadas. “O meu pai não consegue mais se alimentar pela boca. Tem sondas na barriga. Algumas horas fechamos a traqueostomia e ele pode falar. E ele só fala de Palmeiras nessas horas”.
Heloísa tenta levar a vida de antes. “Ainda pago o lugar anual dele. Vou ao Allianz com meu sobrinho. E, quando estou lá, faço questão de ligar para o meu pai por vídeo chamada. Para eu poder ter uma imagem dele com a nossa casa ao fundo. Para ele, no fundo, frequentar ainda o nosso estádio. Como se ele estivesse sempre comigo”.
Viram juntos Breno Lopes em 2020 fazer do Verdão campeão da América do Sul. E Deyverson, em 2021 repetir o feito. “Tudo que acontece é um prémio para ele. Também é para mim. Não imaginava depois do AVC que ele ainda estivesse com a gente. Vendo e abrindo o sorriso com nossas vitórias que a gente também não acreditava”.
Um milagre!
Cláudio já foi internado mais seis vezes. A família está a adaptar-se à pessoa em que ele se tornou. Não consegue andar. Vê muito pior. Mas, continua a recordar todos os momentos…
Há duas semanas teve uma terrível pneumonia. Ficou 12 dias internado. Viu o jogo de ida contra o Atlético Mineiro, da primeira mão dos quartos de final da Copa Libertadores, no hospital. Heloísa, em casa. Teve alta na véspera da segunda mão, que os palmeirenses venceriam no desempate por pontapés de penalty, depois de terem acabado com nove jogadores.
“- O meu pai é um vencedor. Como o nosso time. Parece um sonho tudo isso. Como eles conseguem fazer, nosso time e o meu pai, eu não sei”.
É amor…é incondicional!