Economia do Golo
O desporto é a nossa paixão e a escrita o nosso vicio. Sempre dispostos a conjugar as duas artes, na certeza de uma junção sempre feliz... ousem descobrir!

A Piscar o Olho À Memória…

Sabemos que o Brasil é conhecido pela capacidade técnica dos seus jogadores.

Apesar de concordarmos com o texto escrito pelo Rui Mota em https://economiadogolo.com/a-globalizacao-do-futebol/, a verdade é que, depois de vermos a exibição desta noite do Brasil, acreditamos existir um veio distintivo que separa quem tem a ginga no corpo dos demais. Aliás, ele perdoar-nos-á a inconfidência, quando a comentarmos a exibição canarinha, concordamos que esse movimento tão próprio de menear o corpo com a bola, como se de uma dança se tratasse, estava de volta.

Verdade se diga que as últimas selecções do Brasil que venceram o Campeonato do Mundo eram mais pragmáticas que apaixonantes. Em 1994, Parreira venceu com um modelo de dois médios defensivos (Dunga e Mazinho), não permitia que na ala esquerda Zinho desequilibrasse e Raí ainda tinha como missão equilibrar o meio campo. Porém, tudo acabava por ganhar mais sabor a praia, a mar, quando a bola chegava a Romário que, em combinações, com Bebeto relembrava-nos da essência do futebol do país. Por causa dessa subversão ideológica, Parreira ofereceu-nos, juntamente com Sacchi, a final mais aborrecida da história, numa antítese do que tinham sido as três que os canarinhos tinham vencido em 1958, 1962 e 1970, sempre sob o signo dos inesquecíveis Pele e Garrincha.

O ano de 2002 trouxe-nos Scolari. Apesar de ter génios como Rivaldo e um jovem entusiasmante chamado Ronaldinho Gaúcho e um goleador ressuscitado chamado Ronaldo, o Brasil foi pragmático. Apresentou-se em 3-5-2, novamente a insistir na coesão defensiva alicerçada em Kleberson e Gilberto Silva. Para a genialidade ter lugar, primeiro urgia sanear, recuperar bolas, ser agressivo no momento defensivo, de modo a soltar os génios que surgiam de todos os lados.

Passaram 20 anos. Muitas desilusões foram acumuladas como o quadrado mágico de 2006, em que aos três R’s, adiu-se Kaká, mas que nada puderam fazer relativamente ao génio de Zidane.

Até que chegamos ao presente. Ao trabalho de autor de Tite alicerçado no perfume dos génios. São cinco talentos ofensivos (Paquetá, Neymar, Raphinha, Vinicius e Richarlison) que encontram a felicidade para exprimirem o seu jogo, graças à sobriedade de Casemiro que enche o campo de recuperações, de antecipações e…de liderança, mesmo sem ter braçadeira. O resultado são sinfonias como as que assistimos na primeira parte de, hoje, frente à Coreia do Sul, algo do mais melódico e sublime a que assistimos neste Mundial. Não sabemos onde chegará este Brasil, mas, desde já, pisca o olho à nossa memória!