Economia do Golo
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A Multipropriedade de Clubes… A Nova Moda..

Na fotografia apresentamos uma imagem do Manchester City, a realidade mais florescente do City Football Group, a empresa de futebol, se assim lhe podemos chamar, com maior número de clubes: doze, sendo uma das nove à escala mundial que possuem mais de cinco clubes.

Refira-se que esta realidade foi beneficiada pelas dificuldades financeiras de diversas emblemas causadas pela Covid 19, a necessidade de obterem dinheiro fresco para cumprir os compromissos assumidos, bem como continuar a reforçar os seus quadros, levou a que os processos de aquisição por diversos fundos se tornassem numa realidade quase semanal, fazendo com que o número de clubes no mundo detidos ou controlados por estes gigantes tenha duplicado nos últimos anos.

Merecerá especial destaque, para além da City Football Group, a intensa actividade do fundo 777 Partners, cujo quadro de interesses abrange os belgas do Standard, os italianos do Genoa, os alemães do Hertha Berlin, bem como a do Amber Group com participações em emblemas de latitudes tão distantes como a França, Itália ou Colômbia.

Para atentarmos à evolução desta realidade, bastará dizer que na Primavera de 2021 foram identificados 117 clubes no mundo controlados por 45 grupos, sendo que em Março de 2023 já eram 268 emblemas a apostar nesta forma de gestão, controlados por 99 grupos e instalados em 60 países.

Por isso, no seu relatório do passado mês de Fevereiro, a FIFA escreveu que “o aumento do investimento em multi-clubes tem o potencial de causar uma ameaça material à integridade das competições europeias de clubes, como crescente risco de ver dois clubes com o mesmo dono ou o investidor a encontrarem-se no campo.”

Façamos, agora, um retrocesso para enquadrar como esta polémica começou. Estávamos em 1997, e nos quartos de final da, então, Taça das Taças estavam os italianos do Vicenza, os checos do Slávia de Praga e os gregos do AEK, o que obrigou a fossem tomadas medidas para que tal não voltasse a ocorrer, ainda que em 2017, o conflito entre o Red Bull Salzburg e o RB Leipzig obrigasse a UEFA a tomar medidas e a colocar um novo dispositivo legal no seu regulamento de competições. Assim, o artigo 5.01 deste regulamento passou a determinar que nenhum entidade poderá ter uma influência decisória em dois ou mais clubes que participem nas provas da UEFA. Tal levou a que a Red Bull realizasse alterações estruturais no organograma administrativo dos dois emblemas, de modo a que não existisse um conflito insanável entre ambas as equipas.

Ainda assim, refira-se que no Velho Continente existem 23 países que têm regras para regular a multipropriedade ou o controlo de mais do que um clube, sendo que, segundo a UEFA, muitos mais se preparam para legislar sobre este instituto, inclusivamente, abrangendo as transacções entre eles. Assim, segundo fonte da UEFA, a preocupação existirá se um clube em multipropriedade vender um jogador a um emblema detido pelo mesmo grupo por um valor inferior ao que poderia alcançar a outro fora desse círculo. Tal terá como condão desvirtuar as competições, já que o adquirente terá uma posição fortalecida em relação aos seus concorrentes.

Por essas razões e, quando instado a comentar a aquisição do Manchester United, o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, referiu que era necessário repensar estes modelos, devendo ser regulamentados, mas sempre tendo em consideração não se poder dizer que não ao negócio, tendo dúvidas se deveria-se apostar na restrição de emblemas detidos do mesmo proprietário actuarem nas mesmas competições.

Porém, mesmo sendo vista como resolução de muitos problemas, esta possibilidade não merecerá o acolhimento dos adeptos. Relembremos as queixas dos adeptos do SC Braga aquando da notícia de 21% por parte do grupo QSI, ou os NAC Breda, dos Países Baixos, que, pelos seus veementes protestos, obrigaram a City Football Group a recuar nos seus intentos de adquirir o clube. Tal facto, levou ,mesmo Martin Enderman, presidente da Football Supporters Europe, a dizer que “os clubes fazem parte das suas comunidades locais e não se ajustam a outras estruturas. Os “feeder clubs” fazem sentido para os adeptos, mas mas só se o clube deles estiver no topo da hierarquia.”

Os jogadores, também, se encontram atentos a esta realidade, visto a interligação entre clubes poder afectar a sua carreira, já que 6500 atletas fazem parte dos 180 emblemas interligados entre si, já para não falar nas academias existentes. Por sua vez, Fernando Roitman, fundador da CIES Sports Intelligence, alude a que a FIFA deverá intervir nesta nova forma de ver o futebol, já que o artigo 25º dos Regulamentos da UEFA manda respeitar os regulmamentos de transferência da FIFA no que respeita a empréstimos.

Numa realidade emergente, aguardemos os episódios dos novos capítulos…