“ – Preciso de contar-vos a verdade: é muito complicado. Para alguém nascido num bairro como eu, é difícil manter-se concentrado. Sou da Restinga (um bairro na Zona Sul de Porto Alegre). É difícil seguir o nosso caminho, sem nos desviarmos. As oportunidades aparecem, e são muitas. Prometem uma forma mais fácil de ganhar dinheiro. E é aí que as pessoas se perdem. Nunca me desviei do caminho, mas fui testemunha, caminhei ao lado de pessoas que se estavam a perder
Nunca deixei o caminho, mas fui testemunha, caminhei ao lado das pessoas que se estavam a perder.
“Perdi muitos amigos no mundo do crime, no tráfico de droga…. Amigos que jogaram dez vezes melhor do que eu e que poderiam ter estado num grande clube de futebol do mundo.
Ter estes exemplos perto de mim foi um factor importante para manter o meu foco. Eu sabia o que queria desde muito jovem: ser futebolista. Atingir este objectivo ao sair de um bairro é um grande sacrifício. Mas a minha ambição era ainda maior. Eu não me desviei. Se hoje falam da minha ‘magia’ no futebol, eu digo… esta é a verdadeira magia”.
Foi por causa da minha família que nunca desisti da escola e ignorei as oportunidades que tive de tomar o caminho errado. É por causa deles que estou aqui.
Chamaram-me vagabundo por pedir para comer.
Seria injusto dizer que tenha tido fome na minha vida porque aos meus pais nunca faltou comida em casa. Mesmo assim, após o treino, ficava na rua e pedia às pessoas para me comprarem algo para comer ou um lanche. Algumas pessoas ajudava-me, outras chamavam-me vagabundo. E não havia nada para fazer senão esperar que o autocarro chegasse a casa para que eu pudesse comer alguma coisa. Na altura tinha entre 12 e 14 anos de idade.”
A história de Raphinha, antigo jogador do Vitória SC e Sporting, actualmente no Barcelona, em discurso directo no UOL Esportes, num artigo escrito pelo seu punho…